O Guardião
Traduzido de: Kabbalah Today issue#15
Quem é o guarda que permanece na entrada do mundo espiritual que decide quem deve entrar e quem não deve? Uma viagem seguindo Kafka, Baal HaSulam, duas parábolas e um portal
Franz Kafka (1883-1924) pode muito bem ser o autor que melhor expressa o surgimento da impotência que sentimos perante a nossa presente existência. O "mundo Kafkiano" é obscuro, taciturno e ameaçador. Os seus heróis são desesperados e incapazes, que vagueiam neles como se tentassem (e falham) ultrapassar os seus infortúnios.
Uma das histórias de Kafka mais famosas, "Perante a Lei," fala sobre um aldeão que se senta em frente ao "portão da lei," pedindo permissão para entrar. Ironicamente o portão está escancarado, mas o aldeão tem medo de o atravessar sem a permissão do guardião. O guardião avisou-o que há mais e mais guardas um pouco mais à frente, cada um mais forte que o anterior.
Quebrado pelos obstáculos intransponíveis, o aldeão faz a típica decisão Kafkiana - a de se sentar pelo portão e esperar que este se abra eventualmente. De tempos a tempos, ele faz tentativas fúteis de persuadir o guarda a o deixar passar, tentando aquece-lo com esquemas inteligente e pedidos. Mas os anos passam, o aldeão fica mais velho e o portão permanece fechado como antes.
No anoitecer da sua vida, o aldeão faz uma tentativa e pergunta ao guarda: Como pode ser que todos os que querem entrar no portão da lei, mas Eu sou o único que pediu permissão?
"Esta entrada foi criada apenas para ti," respondeu o guarda. "E agora Eu vou fecha-la."
O Portal que Oculta as Respostas
O desejo de atravessar o "portão da lei," para descobrir o sistema de forças que governa as nossas vidas, não nos é novo. A humanidade sempre procurou descobrir as leis ocultas do universo, ganhar controlo sobre estas e usa-las para o seu beneficio pessoal.
No fim do século 21, este desejo alcançou novas alturas. Enviamos foguetões para o espaço, andamos na lua, estabelecemos redes de comunicações mundiais e desenvolvemos máquinas e instrumentos sem fim. Porém, ainda estamos no escuro no que respeita a nossa natureza espiritual, a nossa essência e propósito.
Ainda não temos respostas às nossas mais profundas perguntas, tais como: Quem comanda as nossas vias? Qual é a fonte da nossa realidade? Qual é o sentido de tudo isto? E tal como o aldeão na história de Kafka, sentimos frequentemente que somos governados por um conjunto desconhecido de leis que ninguém decifrou de verdade.
Então quem é o guardião e porque recusa este a nossa entrada?
Na introdução ao seu trabalho, Talmud Eser Sefirot (O Estudo dos Dez Sefirot), Baal HaSulam deixa pistas sobre a resposta com uma parábola que é reminiscente à história de Kafka:
"É em vez como um rei que desejou escolher todos os seus leais amados e traze-los ao seu palácio... Todavia, ele nomeou muitos dos seus servos a guardar a porta do palácio e todas as estradas levando a esta. Ele ordenou-os a astutamente enganar todos os que que se aproximassem e a os distrair do caminho...
Claramente, todas as pessoas que começaram a correr para o palácio do rei foram astutamente rejeitadas pelos guardas diligentes. Muitos deles dominaram os guardas e aproximaram-se da entrada do palácio. Mas os guardiões eram os mais aplicados e voltaram da mesma forma que tinham ido. Então eles vieram e partiram, até que eles se cansassem de continuar a tentar."
Inicialmente, é difícil compreender o que o rei estava a fazer: Quereria ele realmente aproximar os que o amam ao seu palácio? As suas acções indicam o contrário, pois se ele quisesse verdadeiramente que estes entrassem, não seria mais simples abrir a porta e deixa-los entrar?
O dilema é resolvido mais tarde na parábola quando aprendemos que esta é a forma do rei encontrar quem quer verdadeiramente alcançar o seu palácio:
"E só os corajosos, cuja paciência prevaleceu e que conseguiram ultrapassar aqueles guardas e abriram o portal, foram imediatamente privilegiados a ser recebidos pelo rei... e claro, daquele momento em diante, eles mais não teriam de enfrentar aqueles guardas, uma vez que foram recompensados com a servidão e comparecimento perante a luz gloriosa da presença do rei dentro de seu palácio."
A Chave
"O palácio do rei" não é apenas um belo esconderijo, cheio de tesouros preciosos e jóias. De acordo com os Cabalistas, é a nova percepção da realidade de uma pessoa, quando todos os seus desejos são governados pela toda-inclusiva lei espiritual - completa entrega - a qualidade do Criador. Quando descobrimos esta qualidade de entrega dentro de nós e a colocamos acima dos nossos desejos egoístas, iremos descobrir o que Baal HaSulam alegoricamente chama "a luz gloriosa da presença do rei" - que os nossos desejos sejam preenchidos com abundância infinita.
Mas mais do que isso, iremos perceber que esta lei oculta sempre nos afectou, mesmo quando não estávamos conscientes dela. E é então que as portas da lei espiritual se abrem perante nós.
Então quem são aqueles guardas que temos de ultrapassar no nosso caminho para o palácio do rei - para a qualidade de entrega do Criador? Estes são os nossos desejos egoístas. Ao contrário do que possamos pensar, não é suposto que eliminemos os nossos desejos. Em vez disso, precisamos de aprender como usar a vontade egoísta básica com a qual nascemos, em nome da entrega. Precisamos de adquirir novas intenções - de amor e entrega - que irão mudar a forma como usamos os nossos desejos.
O Caminho
Da mesma forma que o aldeão na história de Kafka, por vezes pensamos que se esperarmos o suficiente e rezarmos bastante, então a porta se irá abrir por si mesma. Mas os Cabalistas dizem-nos claramente que tudo depende de nós e para nos ajudar a ultrapassar os nossos guardas internos, eles deram-nos um método de mudança interna e desenvolvimento.
Ao contrário do espírito pessimista da história de Kafka, a história de Baal HaSulam retém grande esperança de mudança. Os Cabalistas que conseguiram atravessar o portal com sucesso dizem-nos que no outro lado, a realidade revela-se completamente oposta à realidade Kafkiana, à nossa realidade deste mundo. Lá, uma pessoa descobre uma realidade perfeita, eterna, governada apenas por uma lei - a lei do amor.
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